Preso em Liberdade: Parte III (2009-12)
Não
é só a mim que eu temo,
Temo-me
frente aos outros:
O
que pensarão?
Gostarão
de mim?
Será
que corresponderei ao que pensam?
E
se... e se... não gostarem de mim?
Penso,
ninguém me conhece, ninguém me entende;
No
entanto, faço-me entender, conhecer?
Não,
permaneço fechado, oculto...
Impeço
e proíbo que me descubram.
Posso
não ser bom o bastante – se é que existe esse “bom o bastante” –
Tudo
depende do “para quem”,
Do
outro, enfim...
Sem
este, eu não existiria.
Não
me basto!
Quem
se basta?
Se
não houvesse o outro,
Para
quem escreveria?
Quem
ler-me-ia?
Tu,
que me lês, és um dos outros,
Um
de muitos outros que, em sua simples existência – sejam:
mulheres,
homens, crianças, animais, coisas; Seres em geral, humanos ou não –,
fazem-me
ser eu, e não outro:
Se
sou Humano, e penso, e sinto e..., é porque há outros Seres, Seres Não-Humanos,
portanto, que não pensam, não sentem, não... – não pensam, e não sentem, e
não... como eu, ou como nós, Humanos –;
Deste
modo, posso dizer que sou um indivíduo singular, complexo e etc.
E
só o sou em relação a outros indivíduos também singulares, complexos e etc.
Observa:
um só é um em relação a dois, a três, a quatro e a...
Sem
dois, três, quatro e..., um não é um,
Não
existe um, é algo nulo, vazio, algo-sem-ser (algo que não é, que deixa de
ser...), inexistente.
Como
posso (podemos) temer o outro,
Ou
a mim (a nós) perante os outros,
Se
só sou (somos) eu (nós) devido a este, a estes?
Os
outros nos fazem ser únicos;
Fazem
de nós nós mesmos, e não coisa diversa.