Memória e Patrimônio (2008)
Neste texto, pretendo escrever um pouco sobre as relações
entre memória e patrimônio. Para começar, devemos entender o que é a memória
para depois analisar como esta pode (e muitas vezes o é) ser utilizada para
consagrar ou ocultar um determinado personagem ou fato histórico, na forma do
patrimônio, entendido, neste caso, como tudo o que foi produzido pelo Homem:
edificações, artes e etc.
A memória, como sabemos, é uma
abstração, ou seja, não existe em si mesma; é uma capacidade própria dos Seres
Humanos.
Um
indivíduo, a partir de seus pressupostos, poderá esquecer ou guardar em sua
mente (consciente ou inconscientemente) um fato ocorrido em sua vida, seja este
vivido, ouvido ou contado. A memória, então, é seletiva, vem do próprio sujeito
que a possui, ou não a possui.
Agora, podemos estabelecer uma
relação, dentre as várias existentes, entre a memória e o patrimônio. Como
vimos, por ser seletiva, a memória vem de cada indivíduo, mas, também, pode ser
imposta pelas instituições sociais de poder: pelo Estado, pela religião, pela
família... E é por meio da consagração de um patrimônio histórico: uma
construção, um personagem, uma data (aniversário, feriado e etc.) que uma
memória pode ser imposta sobre um grupo ou uma sociedade.
Por meio de um monumento, e dos
rituais que o consagram, um fato ou personagem pode ser constantemente
recriado/ rememorado, e passa, com o tempo, a ser aceito pela sociedade a que foi,
de alguma forma, imposto. Deste momento em diante, a lembrança e a comemoração
(se for necessária) de um personagem, fato se tornará algo natural, será como
se fizesse realmente parte da vida dos indivíduos, que, frequentemente, não se
lembrarão que este monumento foi algo construído por alguém, em um determinado
período, com um determinado objetivo – e nem estarão preocupados em pensar
nisto -, a monumentalização estará concluída – e com sucesso - e internalizada
nos sujeitos.
Por fim, não podemos esquecer que
nada é neutro, inclusive a memória, tendo sido imposta ou não; todas as
escolhas são um ato político, onde prevalece o ponto de vista, a vontade de
quem a faz (a fez). Isto cabe em todos os estudos (o próprio trabalho do
historiador não é neutro, escolhas sempre precisam ser feitas). É um fator (a
não neutralidade das coisas) a que devemos prestar bastante atenção para não
corrermos o risco de nos influenciarmos por ele. Devemos sempre questionar e
buscar a origem de tudo.