O Povo na História (2007)

 

Este texto pretende fazer uma breve análise sobre o povo na história, ou melhor, sobre o povo em dois períodos históricos: na Inglaterra do século XVII e antes e depois da Revolução Francesa.

Para tanto, utilizarei dois autores estudados em sala de aula, são eles: Christopher Hill (‘Os pobres e o povo na Inglaterra do século XVII’) e Albert Soboul (‘A Revolução Francesa’).

Como povo, hoje, consideramos todos os habitantes de um Estado, mas, como veremos, não era o que os indivíduos destes dois períodos estudados pensavam.

Só os nobres, os clérigos e a burguesia em geral (sendo esta alta ou baixa) eram considerados como membros do povo. Podemos então notar que a grande massa urbana e rural, sem posses, não entrava na classificação dos chamados cidadãos de respeito, os “bons homens“. E, dessa forma, a população era controlada pelos “verdadeiros cidadãos” e a “ordem social “ mantida em função do constante progresso a que viviam e desejavam os burgueses.

No texto do historiador inglês, Christopher Hill, é feito um estudo sobre quem era o povo ao qual o Parlamento inglês, recém formado no século XVII, dizia estar ao serviço. Podemos perceber, lendo suas teorias e discursos, que, para os pensadores do período, nem todos os habitantes do Estado eram considerados como sendo o povo. Diziam que os membros do povo eram só os homens livres, ou seja, os indivíduos que não possuíssem propriedade não deveriam fazer parte dos assuntos políticos, ou seja, não tinham voz no Parlamento.

Os grandes proprietários de títulos e posses diziam que “as gentes que não possuem propriedades privadas não tinham o direito de participar dos assuntos referentes à política e às eleições burguesas“. Esta era uma forma de os burgueses manterem sua superioridade, não se igualando a grande e pobre massa, pois, se todos tivessem voz no Parlamento, não seria mais possível controlá-los e submetê-los às suas vontades e desejos.

A simples idéia de igualdade impede o controle e a dominação sobre os mais fracos, pois, mesmo que não fossem iguais na questão de posses ou riquezas, o simples fato de terem o direito de opinar sobres as questões referentes à sociedade levaria a uma tentativa, por parte da classe popular, de mudar sua condição e reivindicar seus direitos perante a Nação. Não queremos, com isso, dizer que o povo era passivo e influenciável nas relações sociais, pois nada disso daria certo se já não houvesse o sentimento de indignação por parte da população oprimida e explorada pela nobreza feudal.

Devemos lembrar que não eram só os pobres e vagabundos os excluídos, mas também as mulheres, as crianças, os desempregados, as diaristas, os agricultores pobres, ou seja, todos que não possuíssem propriedades livres o eram e não deviam ser levados em conta, a não ser para serem governados. Era natural para a burguesia e nobreza ter os plebeus a seu serviço.

Na Revolução Francesa, segundo o historiador Albert Soboul, aconteceu algo semelhante. 

Tudo começou com uma burguesia em expansão que queria ascender à sociedade e ditar suas próprias regras, extinguindo o sistema feudal e a velha aristocracia de uma vez por todas.

O objetivo desta nova classe, ou seja, o objetivo da burguesia era construir um Estado moderno, onde o comércio e as leis seriam ditados e estabelecidos pelos mesmos e ao seu próprio interesse, o de obter lucros e vantagens econômicas.

Mas, para obter um resultado positivo na revolução, a burguesia deveria acabar, de uma vez por todas, com a antiga ordem feudal e seus representantes e, para isso, necessitava do apoio popular.

Aproveitando-se, a burguesia, do já existente sentimento de revolta entre a grande massa popular, devido à opressão e exploração que estes sofriam por parte dos senhores feudais, a burguesia incitou este povo, já descontente com sua condição social, a pegar em armas e derrubar a velha aristocracia. Em troca, foi prometida a essa população miserável uma sociedade mais justa de liberdade e igualdade. Uma sociedade onde todos poderiam exercer seus direitos, sem exploração ou exclusão, o que de fato não ocorreu.

Após o triunfo da burguesia na revolução, o povo, esperançoso por mudanças, continuou na mesma situação de antes, ou seja, ficou novamente submetido à uma classe dominante, agora a burguesa, sem poder exigir seus direitos. Só mudou quem exercia o poder.

Podemos ver então, que, ao contrário do que aparece nos discursos historiográficos oficiais, a história não é feita apenas pelos notáveis, pois nenhuma revolução pode dar certo sem o apoio da população. Devemos parar e repensar a história, procurando todos os indivíduos existentes em cada período histórico e estudá-los para, desta forma, entendermos melhor o seu desenrolar. Devemos recuperar a história das chamadas personagens sem história.

Enfim, para terminar, gostaria de dizer que não me aprofundei nos temas abordados: Inglaterra do século XVII e Revolução Francesa, pois este não era o meu objetivo principal. Queria, com este pequeno texto, explicar um pouco sobre o papel do povo, da grande massa popular nestes dois períodos históricos.

Os estudos históricos vêm sofrendo grandes mudanças nestes últimos anos, desde os anos 1970 principalmente, onde os historiadores passaram a indagar, a querer descobrir, conhecer, estudar os chamados “ excluídos da história “, ou seja, os que não apareciam nos discursos oficiais e conservadores. Diversas obras historiográficas, como os textos utilizados, vêm surgindo a respeito de estudos sobre os sujeitos “não importantes “, não importantes segundo a historiografia tradicional.

Devemos ter em mente, ao estudar a história, que esta não é feita só por grandes homens e sim, também, por todos os indivíduos que vivem em determinado período. O que aparece nos livros e pesquisas nada mais é do que um recorte de uma temporalidade feito por um estudioso, um historiador, no caso, para melhor entender, estudar determinado tema ou período. Isso não quer dizer que só é importante, que só é história o que está escrito ou o que aparece nos discursos oficiais (grandes acontecimentos, grandes feitos, grandes personalidades...), pois a história é toda a produção do conhecimento humano, toda a ação humana, num tempo e espaço, a partir de suas necessidades particulares e ou coletivas. E cabe ao historiador estudar esse caminhar humano sobre a Terra.

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