Sobre o MASP (2008)
Nesta
parte do trabalho, pretendo analisar o MASP, desde a escolha do lugar, bem como
a sua fundação e a aquisição das obras. E, por fim, analisarei um pouco de sua
trajetória até os dias de hoje.
A idéia de construir um museu de arte foi do grande
empreendedor Assis Chateaubriand (Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo).
Este foi o criador e diretor da maior cadeia de imprensa do
país, os Diários Associados, que consistiam em 34
jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, uma agência de
notícias, uma revista semanal (O Cruzeiro), uma mensal (A Cigarra), várias
revistas infantis e uma editora.
Chateaubriand estava com uma idéia de construir um museu de arte e, em uma
ocasião, teve a felicidade de se encontrar com o arquiteto italiano Pietro
Maria Bardi (que era casado com a arquiteta Lina Bo Bardi). Este e sua esposa,
Lina Bo Bardi, estavam, neste ano de 1946, no Rio de Janeiro, apresentando duas
exposições sobre a arte italiana, uma com obras antigas e outra com obras
contemporâneas. E foi nesta exposição, no prédio do Ministério da Educação e
Saúde, que Chateaubriand se encontrou pela primeira vez com P.M. Bardi.
Chateaubriand foi um dos primeiros a visitar a exposição de arte italiana. Ele
estava muito interessado e adquiriu quatro obras.
Um amigo de Bardi, Mário da Silva, que conhecia bem Assis Chateaubriand,
os apresentou um ao outro, e disse a Bardi que tivesse cuidado ao manter
contato com o “rei da comunicação“, palavras de Mário, pois este tinha a fama
de aventureiro (nos negócios).
Durante a
conversa, Chateaubriand falou (falava bem em italiano, segundo Pietro) a Bardi a
idéia que tinha de criar um museu de arte no Brasil.
Depois de vários encontros sobre esta “empreitada museológica“, Pietro
Maria Bardi e Assis Chateaubriand foram se tornando amigos e Bardi foi
convidado a ser o diretor do futuro museu. Bardi, já que ele e sua esposa, Lina
Bo Bardi, estavam pensando em se mudar para o Brasil, aceitou participar desta
empreitada.
Além de querer construir um novo museu, Chateaubriand queria mudar a
Constituição, para permitir que pudessem ser feitas campanhas para a
arrecadação de fundos para a realização de obras em benefício da sociedade.
Feito isso, Chateaubriand começou a fazer campanhas e a investir em
várias áreas, “para o bem da sociedade e para o crescimento do país“, segundo P.M.
Bardi, em seu livro.
Em relação ao projeto museológico, Assis queria dar como título ao futuro
museu ‘Museu da Arte Antiga e Moderna‘, mas este título foi modificado pois
Bardi dizia ser errado diferenciar as artes, achava correto abranger todas as
artes plásticas sem distinção. Aos poucos, como nos relata Bardi, Chateaubriand
foi se convencendo e, por fim, aceitou o título de ‘Museu de Arte‘.
Após estabelecerem o nome e o tema do museu, restava decidir o local onde
este seria sediado. A dúvida estava entre as cidades Rio de Janeiro (que era,
na época, a capital do país) e São Paulo. A escolha caiu sobre São Paulo, pois
esta possuía mais riquezas devido a produção e comércio do café. E desta forma
conseguiriam mais financiamento para a construção do museu e para a aquisição
de obras para o mesmo.
Segundo Bardi, o
Museu de Arte de São Paulo, agora pode ser chamado assim, “começou a se
articular numa época bastante agradável da cidade. Vindo de longe (Itália),
encontrei um centro já em vias de industrialização onde, porém, o espírito
provinciano e caseiro ainda transparecia“.
Na cidade de São Paulo, já existiam, neste período, os museus Paulista
(Ipiranga) e a Pinacoteca do Estado e não parecia adequada a idéia da criação
de um novo museu de arte. Mas a idéia de Chateaubriand era a de fazer não só um
simples museu, ou seja, não queria fazer só mais um local de exposição e sim,
como veremos a seguir, um local de interação, que provocasse o interesse, por
parte de todos, pelas artes plásticas, e não só de uma classe social mais “culta e apreciadora das artes“. O que era uma
inovação, para a época.
Assis Chateaubriand morava na capital, Rio de Janeiro, mas mantinha uma
casa
Este período, décadas de 1940 e 1950, marcava a passagem da riqueza agrícola
cafeeira, dos grandes barões, para as indústrias em desenvolvimento. E isto,
segundo Chateaubriand, poderia ser bom para o surgimento de novos ramos de
atividade. Então, podemos entender a preferência por São Paulo para a criação
do Museu de Arte, e esta era devido aos seus recursos financeiros.
Assis Chateaubriand era muito bom em fazer negociações e a eliminar
empecílios, “era só dar um telefonema e estava tudo resolvido“, segundo Bardi,
o que, de certa forma, provocou a má fama e os boatos que circulavam, entre a
população, a seu respeito.
Escolhido o nome e o local para sua sede, agora era a hora de começar a
construção do museu e formar seu acervo, o que, como veremos, ficara ao encargo
de Pietro Maria Bardi, este recebera “carta branca” do empreendedor para viajar
e adquirir novas e importantes obras para o museu. Assis Chateaubriand confiava
bastante nas escolhas, opiniões e aquisições de Bardi. O dinheiro ficava por
conta de Chateaubriand, que se encarregava de buscar financiamentos. Sempre obtinha
bons resultados quando precisava de financiamento para a aquisição de alguma
obra, escolhida por Bardi. Era, portanto, um ótimo negociante, como vimos
anteriormente.
Segundo Bardi,
Assis não era um bom conhecedor de arte e sim um grande apreciador.
A Avenida Sete de Abril foi escolhida para ser a sede do futuro museu. Lá
havia um edifício, ainda na fase do concreto, que fora o escolhido para sediar
o ‘Museu de Arte de São Paulo‘.
Lina Bo Bardi projetou
os espaços, no prédio. Havia, neste, uma
sala para exposições periódicas, outra para a exposição didática de história da
arte e um auditório, com 100 lugares, destinado a cursos, conferências,
concertos e outras atividades que promovessem a cultura e a interação de todos
com as artes em geral. E esta era a principal inovação, como vimos, do novo
museu.
Então, em 1947 foi inaugurado o ‘Museu de Arte de São Paulo‘. A
inauguração teve a presença do Governador do Estado, Adhemar de Barros, do
Ministro da Educação, Clemente Mariani e de várias outras personalidades. Mas a
sua inauguração foi anunciada só nos Diários,
jornal de Chateaubriand, os demais jornais nem tocaram no assunto,
segundo Bardi. No dia seguinte à inauguração, muitas pessoas foram ver a
exposição de um acervo, ainda em formação, e duas exposições temporárias.
Três anos após a conclusão das obras do edifício, este passou por uma
reforma para melhorar a divisão do espaço. Toda a obra e as reformas foram acompanhadas
pela arquiteta Lina Bo Bardi. E o MASP, reformado, foi inaugurado pelo, então
presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, com a presença do banqueiro
Nelson Rockefeller e do cineasta Henri-Georges Clouzot, entre outros, todos
pertencentes ao mundo cultural.
Enquanto isso, Pietro Maria Bardi viajava ao redor do mundo em busca de
obras de arte, para ampliar o acervo do MASP, e Assis Chateaubriand cuidava em
adquirir financiamento para a compra das obras de arte, escolhidas, sempre, por
Bardi. Este se aproveitava de suas influências em antiquários e galerias de
arte para encontrar as obras certas, com os preços certos. Como nos diz Bardi,
em seu livro, no período do pós-segunda grande guerra, entre 1946 e 1947, eram
muito comuns os “caçadores de arte”, devido aos preços mais acessíveis das
obras de arte, principalmente norte-americanos. Desta forma, a pinacoteca do MASP
foi crescendo e se tornou importante, hoje é uma referência mundial.
Além do aumento da coleção houve também o aumento e diversificação dos
cursos promovidos pelo museu. Estes cursos tinham por objetivo suprir as
carências do ambiente artístico e didático da cidade. Todos os cursos estavam
englobados no chamado ‘Instituto de Arte Contemporânea‘.
Alguns cursos
oferecidos eram o de história da arte, o
de gravura, o de desenho, o de pintura, o de desenho industrial (ministrado por
Lina Bo Bardi), o de escultura, o de ecologia, o de fotografia, o de dança, o
de música, o de cinema, o de teatro, o de moda, o de propaganda e marketing (que
mais tarde se transformou na Escola Superior de Propaganda e Marketing) e
muitos outros. Muitos desses cursos existem até hoje, outros, segundo Bardi,
não duraram por serem avançados demais para a sua época. Podemos, com isso,
notar que o MASP sempre esteve disposto a recolher novas idéias e iniciativas,
sempre com o objetivo de desenvolver as artes e a apreciação destas.
Mesmo
com toda a diversidade do acervo e a diversidade de cursos e atividades, o
museu era considerado um “museu menor“, com “obras menores“, por muitas pessoas,
e só afirmou de vez o seu prestígio com uma exposição feita em Paris, no museu
do Louvre, em 1953, com a presença das principais obras do seu acervo. A
exposição foi inaugurada pelo então presidente da França, Vincent Auriol. A
coleção só voltou ao Brasil em 1957, após percorrer diversos países da Europa e
algumas cidades dos EUA.
Com o passar do tempo, foi necessário, devido ao aumento do acervo, dos
cursos e das atividades oferecidas, procurar uma nova e maior sede para o MASP.
Enquanto não
encontravam um local melhor, a coleção do MASP ficou no recém construído prédio
da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado). Ao sair de lá, alguns cursos, já
estruturados, permaneceram na FAAP.
Foi então encontrado um terreno, pertencente a prefeitura, na Avenida
Paulista, onde antigamente se localizava o Trianon. O Trianon era um lugar
frequentado pela alta sociedade, os barões do café e etc., onde estes promoviam
festas, bailes. E no fundo havia um Belvedere (um mirante) onde é possível ter
uma visão do centro da cidade.
Só seria permitido
construir neste local se a vista fosse mantida. Daí a idéia, de Lina Bo Bardi,
de construir um prédio sustentado por quatro colunas e um vão livre no térreo,
mantendo, assim, a visão do antigo Belvedere.
Antes, seria
construído, neste mesmo local, a sede do MAM (Museu de Arte Moderna, hoje
localizado no Parque do Ibirapuera), mas o projeto fora recusado, por não
manter a visão do centro da cidade.
O terreno foi concedido para a construção do MASP
pois, como nos diz P.M. Bardi, o prefeito Adhemar de Barros estava se candidatando
à reeleição e Chateaubriand prometeu ajudar, com propagandas, de graça, nos
Diários Associados e, em troca, se Adhemar fosse reeleito, o terreno seria
concedido à construção MASP. O que de fato ocorreu.
O projeto foi iniciado em 1958 e só ficou pronto em 1968, na gestão do prefeito
Faria Lima. O atual prédio do MASP,
situado na Avenida Paulista, foi inaugurado, em 8 de novembro de 1968, pela
Rainha Elisabeth II, da Inglaterra. Como Chateaubriand fora embaixador em
Londres, foi conseguido que a rainha, durante sua visita oficial a São Paulo,
inaugurasse a nova sede. Infelizmente, Chateaubriand havia falecido no dia 4 de abril do mesmo ano.
Agora, vou fazer um breve panorama sobre o MASP e algumas de suas
realizações ao longo dos anos.
Na década de 1950, o museu investiu
em atividades didáticas, cursos e em exposições temporárias.
Na década de 1960, o museu enfrentou um período difícil devido a
construção da nova sede, na Avenida Paulista. Embora a obra fosse custeada pela
prefeitura, os projetos eram pagos pelo próprio museu. Mas, mesmo assim,
segundo Bardi, foi um período rico em atividades culturais.
O novo prédio
foi inaugurado antes de ficar totalmente concluído, foi o então prefeito Faria
Lima quem impulsionou o final da construção.
Em 1969, à pedido do próprio museu, o seu acervo foi tombado pelo ’Serviço
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional’, hoje chamado de ‘Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional‘ (IPHAN). Desta forma, o acervo se
tornou parte do patrimônio histórico brasileiro e qualquer movimentação de suas
obras de arte para o exterior necessita da autorização prévia do IPHAN.
Na década de 1970, já com o novo prédio pronto, o MASP investiu em novas
e diversificadas exposições e cursos. Além de expor seu acervo em vários países.
No ano de 1972
aconteceram diversas comemorações acerca dos 50 anos da semana de arte moderna,
inclusive um circo foi montado no vão livre do MASP.
E assim foi o MASP durante as décadas de 1980 e 1990, promovendo um
intercâmbio de obras, seja levando o seu acervo para exposições no exterior ou
recebendo exposições temporárias, sejam elas nacionais ou estrangeiras. Além, é
claro, de seus cursos; alguns foram desativados, outros foram criados.
Houve um grave problema de infraestrutura, problema este de infiltração no teto, em 1988. O prefeito Jânio Quadros iniciou as reformas
que só foram terminadas no mandato de Luiza Erundina.
Para manter as obras de arte em segurança, durante as reformas, foram
organizadas exposições no exterior e lá ficaram, as obras de arte, até o
término das reformas.
A tinta vermelha
que vemos hoje, nas quatro colunas do prédio, é um verniz impermeabilizante
colocado em 1990. A escolha da cor foi da arquiteta Lina Bo Bardi.
Em 2003, o prédio do MASP foi tombado pelo IPHAN e permanece como símbolo
da cidade de São Paulo.
Há pouco tempo, no dia 20 de dezembro de 2007, houve um assalto no museu,
neste assalto diversas obras de arte foram roubadas. Mas, por sorte, foram
recuperadas intactas.
O museu possui, hoje, uma grande dívida, dizem ser por má administração.
O atual diretor é Júlio Neves.
Devido a sérios problemas, como o assalto e as dívidas, ocorre um
processo no qual a prefeitura e o governo do Estado querem impor sua participação
na gestão do museu.
Enfim, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand é um monumento/ patrimônio
histórico, seja pelo seu riquíssimo acervo ou por sua arquitetura, que não
perdeu sua razão de ser, ou seja, ainda permanece com os mesmos princípios
desde a sua fundação, princípios estes idealizados e concretizados por Assis
Chateaubriand, Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi, entre muitos outros que
fizeram, fazem e ainda farão parte de sua história .
Bibliografia:
A História do MASP –
Pietro Maria Bardi.
Lembranças de São Paulo –
A capital paulista nos cartões postais e álbuns de lembranças – João Emilio
Gerodetti e Carlos Cornejo.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Assis_Chateaubriand
http://pt.wikipedia.org/wiki/MASP
http://masp.uol.com.br/