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"Quando me aproximei, para me despedir, vi que a mesma expressão de perplexidade tornara a estampar-se na fisionomia de Gatsby, como se uma leve dúvida lhe ocorresse quanto a índole daquela sua felicidade atual. Quase cinco anos! Devia ter havido momentos, mesmo naquel tarde, em que Daisy ficara muito aquém de seus sonhos - não por culpa dela, mas devido à enorme vitalidade da ilusão que ele alimentara. Sua ilusão tinha-se projetado além dela, além de tudo. Ele lançara-se ao seu sonho com uma paixão criadora, acrescentando-lhe incessantemente alguma coisa, enfeitando-o com todas as vistosas plumagens com que deparava. Quantidade alguma de ardor ou de entusiasmo pode competir com aquilo que um homem armazenar em seu fantasmagórico coração.
Enquanto eu o observava, ele procurou, visivelmente, recompor-se. Tomou da mão de Daisy e, como ela lhe dissesse alguma coisa baixinho ao ouvido, voltou-se para ela, num assomo de emoção. Penso que aquela voz era o que o prendia mais, com seu calor flutuante, febril, pois que não podia ser ultrapassado pelo seu sonho: aquela voz era uma canção imortal.
Eles haviam esquecido a minha presença, mas Daisy ergueu o rosto e estendeu-me a mão; quanto a Gatsby, não tomou conhecimento algum de minha pessoa. Tornei a fitá-los, e eles também me olharam, com ar distante, possuídos de intensa vida. Depois, saí da sala e desci os degraus de mármore, em meio da chuva, deixando-os lá juntos."
- F. Scott Fitzgerald, em 'O Grande Gatsby'
Filme: 'O Grande Gatsby' ('The Great Gatsby',
1974)
Sério que o Brasil está ficando assim?!